Caminhada de São Lourenço do Sul até Pelotas

Recentemente descobri que é possível fazer uma caminhada saindo de São Lourenço do Sul chegando a Pelotas, na colonia de pescadores Z3. Num post anterior relatei a caminhada de reconhecimento que fui fazer na região, onde consegui reconhecer apenas um pequeno trecho do trajeto.

Após o reconhecimento do local comecei a procurar algum interessado em encarar a empreitada, tarefa que não seria fácil tendo em vista que é uma caminhada de alto grau de dificuldade.

Infelizmente achar interessados em fazer esse tipo de coisa é um pouco difícil, mas para a minha surpresa acabou surgindo uma interessada que tinha conseguido o meu contato através do Frank que já caminhou comigo, e foi assim que conheci a Carol que mora em Gramado e que estava mega disposta a encarar essa aventura, a principio o Frank também iria junto mas devido ao trabalho não pode ir.

Marcamos para o dia 7 de janeiro, uma sexta feira o inicio da caminhada, na véspera da saída a Carol conseguiu mais um membro para a empreitada o Laison que mora em Três Coroas, e com ele atingimos o número de pessoas ideal para esse tipo de aventura.

Como eles vieram de longe nos encontramos na rodoviária de São Lourenço as 13:30 e de lá pegamos um táxi para o camping municipal onde foi o inicio da caminhada.

O inicio da caminhada no camping foi difícil pois tinha uma parte de mata que precisavamos atravessar que era muito fechada e não conseguimos e por isso retornamos e fomos em direção a beira da praia o que nos permitiu passar aquele trecho.

Após o matagal pegamos um bom trecho de terra fofa o que exigiu bastante esforço para caminhar, já com 2 horas de caminhada o terreno deu uma melhorada a terra estava mais firme e ainda não tínhamos passado nenhum rio, apenas passamos por alguns córregos que desembocam na lagoa, que saem das plantações de arroz que ficam nas fazendas ao lado.

Como a praia nesse trecho é deserta conseguimos encontrar até uma cobra d’água na beira da praia, que por muito pouco não foi pisoteada pela Carol que não tinha visto o pequeno réptil que se banhava na beira da lagoa, até agora não tenho certeza de quem ficou mais assustado se foi a Carol ou a cobra, só sei que cada um correu para um lado, e eu corri para bater as fotos. A seguir tem algumas fotos da cobra que eu acho que é uma cobra d’agua.

Após o pequeno susto com a cobra continuamos a caminhada, naquele trecho a paisagem não mudava muito, era a lagoa de um lado e as plantações de arroz do outro com alguns pequenos córregos oriundos da irrigação nas plantações de arroz.

Seguindo a nossa caminhada, após uns 30 minutos, avistei uma gaivota ao longe parada na beira da praia, o que me surpreendeu foi o fato dela estar sozinha, coisa incomum com esse tipo de ave. Conforme fomos nos aproximando nada dela se mexer foi ai que constamos que o bicho tinha algum problema, eu bati algumas fotos e acabei decidindo pegar ela para ver o que podia ser. Como ela não ficava de pé achamos que poderia ter quebrado alguma das patas, após uma análise minuciosa por parte do Laison, que naquele momento se tornou perito em gaivotas conforme documentado no vídeo abaixo, o bicho estava com as patas em perfeito estado, apenas um pouco moles, o que supomos ser o estado normal. Como uma pata quebrada não parecia ser o problema e não tínhamos muito o que fazer pelo animal decidi colocar ela de volta ao chão e entrega-la a própria sorte, que provavelmente não deve ter sido das melhores, o que faz parte da natureza.

Após esse episódio continuamos a caminhada até porque não poderíamos perder muito tempo, pois a Carol precisava trabalhar na segunda feira e para ela poder voltar para Gramado no domingo o último ônibus que ela poderia pegar em Pelotas era o das 15 horas, então não dava para perder tempo.

Um pouco mais adiante encontramos uma bomba puxando água para uma plantação de arroz, não era uma bomba muito grande, naquele momento me recordei das minhas visitas a granja que o meu tio trabalhava em Santa Vitória do Palmar, lá eles tinham dois grupos de 7 bombas cada, que se revezavam em turnos de 12 horas por dia, puxando água para as plantações de arroz, com isso da para entender porque naquela época aquela cidade era a maior produtora de arroz do país.

Como a bomba estava sendo cuidada por um funcionário que até dispunha de uma casinha para se abrigar do sol, e provavelmente dormir por lá mesmo, pois as bombas não costumam ser desligadas nesse tipo de plantação eu aproveitei para puxar uma conversa com o cara, até porque seria extremamente mal educado passar do lado do cara numa praia deserta e nem sequer cumprimentar-lo.

Aproveitei para contar os nossos objetivos e pedir alguma informação que ele pudesse nos dar com relação ao caminho que teríamos mais a frente. Infelizmente ele não conhecia o trajeto, tudo que ele sabia era que a cavalgada da costa doce passava por ali, coisa que eu já tinha pesquisado e já sabia. Na verdade eu já esperada esse tipo de desconhecimento por parte dos moradores locais.

Seguindo a caminhada, um pouco mais adiante avistei um trator andando dentro da lagoa, como estava muito longe não consegui ver o que ele estava fazendo, achei que estavam lavando o trator. Um pouco mais próximo eu vi que o trator entrava e sai da água, foi então que descobrimos que o trator estava abrindo um canal para pegar água para uma outra plantação de arroz. O funcionário nos falou que sempre ocorre do canal fechar e eles precisam abrir para que não falte água para a plantação.

Esse canal foi o primeiro que precisamos tirar os tênis para passar, até porque ninguém queria já começar a caminhada com os tênis encharcados.

Por volta das 20 horas chegamos ao Arroio Grande o maior rio que teríamos que ultrapassar naquele dia, como eu já tinha estudado bem o trajeto sabia que aquele rio poderia nos causar problemas, por isso seria importante chegar nele ainda no primeiro dia da caminhada.

Começamos a passar o rio quando o sol já estava começando a se pôr, felizmente esse rio tem vários bancos de areia, como pode-se ver nas fotos a seguir, o que facilitou o nosso trabalho, sendo que no ponto mais fundo que precisamos passar, a água chegou um pouco abaixo da cintura, bem mais fácil que eu esperava. Este trecho de rio eu fiz uns vídeos para mostrar a beleza do local.

Após atravessarmos o rio começamos a montar o acampamento, tivemos a sorte de conseguir terminar ainda com sol, pois foi só as barracas estarem montadas que a escuridão tomou conta. Eu já estava bem cansado e no escuro não tinha muito o que fazer mesmo, por isso tratei de comer alguma coisa e entrei para dentro da barraca para dormir. O Laison que estava mais empolgado, montou a rede que ele trouxe numa arvore e ficou um tempo apreciando a belo céu estrelado que estava sendo proporcionado. Ele também tinha falado que ia pescar, mas ficou só na vontade.

Por volta das 3 horas da manhã o meu sono foi atrapalhado por um barulho de motor, e uma luz que de vez em quanto passava pela barraca, o barulho estava bem alto, o que parecia que tinha algo bem próximo das barracas. Abri a barraca para dar uma conferida, me surpreendi ao ver que era uma barquinho daqueles pequeno, e estava bem distante de nós, e a luz era uma daquelas que os pescadores ligam numa bateria, por isso era tão forte, parecia que eles estavam pescando. Como eu vi que estavam longe eu tratei de me deitar que o dia iria ser longo.

Um pouco antes da 6 horas da manhã, quando ainda estava escuro, embora o sol já estivesse se preparando para aparecer eu me acordei, e já comecei a arrumar as mais coisa, nós tínhamos combinado começar a caminhar de preferencia antes das 7 horas da manhã e como eu sou sempre o mais lento para arrumar as coisas, aproveitei para tirar uma dianteira e para bater as belas fotos do nascer do sol na Lagoa dos Patos que estão a seguir.

Conseguimos começar a caminhada as 6:55, o tempo parecia que ia colaborar conosco, pois estava bem nublado o que iria facilitar muito a nossa vida durante a caminhada.

Logo que começamos a caminhar nos surpreendeu a quantidade de pegadas de tartaruga que tinha saindo da lagoa, muitas nitidamente haviam depositado os ovos naquela noite, como pode-se ver nas fotos a seguir.

Também encontramos algumas pegadas de animais maiores que não conseguimos identificar o que era, como o grupo tinha uma boa imaginação, consideramos a possibilidade de jacarés, leões e onças pintadas. Na realidade o jacaré, pelo que ouvi falar é uma possibilidade real, embora eu ache um tanto remota e existência desse animal na região.

Continuamos a nossa caminhada de descobertas pela Lagoa dos Patos, agora a curiosidade foi as frutas pequenas e amarelas que o Laison encontrou, elas se parecem com uma pitanga, mas um pouco maior. O Laison se arriscou experimentar, mas o sabor não foi dos melhores, o que fez ele desistir da ideia.

A quantidade de tartarugas mortas que tinham nesse trecho do caminho nos surpreendeu, creio que seja porque é um dos trechos mais tranquilos da Lagoa, e se concentrem por lá, inclusive os ovos elas põem lá.

Por volta das 9 horas entramos na primeira das muitas fazendas com criação de gado, a partir deste ponto as plantações de arroz são substituídas pelo gado, isso ocorre porque a partir dali estávamos cercados por duas lagoas, de um lado a Lagoa dos Patos e do outro tínhamos a Lagoa Pequena, no ponto que elas estão mais próximas tem apenas 3 km de faixa de areia, e muitas vezes boa parte disso é um banhando intransponível.

Quando chegamos ao primeiro rebanho que deveria ter cerca de 50 cabeças, tivemos o primeiro susto da viagem. O rebanho todo se juntou e começou a se aproximar da gente, nós que já estávamos bem na beira da água praticamente entramos lagoa a dentro com medo dos bichos. A Carol naquele momento nem respirava mais, só dizia que os bichos iam nos atacar, eu embora tentando demostrar tranquilidade também estava apreensivo, na verdade sendo sincero eu tava apavorado, pois nunca tinha visto os bichos se aproximarem como naquele caso, o Laison nem falava nada, só sei que todos apresaram o passo naquele momento.

Seguimos a caminhada, nesse momento com tempo nublado e areia bem firme, condições ótimas para nós. Por volta das 9 horas avistamos um barco que ainda estava bem distante, conseguíamos ouvir mais o motor do barco do que propriamente ver o barco, não sei como um barco tão pequeno pode ter um motor tão barulhento.

Conforme foi passando o tempo, o barco começou a se aproximar da margem, nós estávamos descansando e comendo naquele momento, eu estava pensado que eram pescadores que deveriam estar colocando redes, mas me surpreendi quando vimos que o barco estava vindo na nossa direção, eles estavam tendo muita dificuldade para chegar até a margem, mesmo longe o barco estava encalhando bastante, como pode se ver nas fotos a baixo. Após um tempo eles chegaram e um dos ocupantes veio na nossa direção, nos perguntou se era nós que estávamos num barco que tinha estragado, até então eu não tinha visto nenhum outro barco por ali, mas ele nos apontou um barco que estava parado mais adiante, nós falamos que estávamos caminhando e que não era nós, ele nos informou que eles estavam procurando esse barco desde ontem, passaram a madrugada toda procurando, inclusive chegaram em São Lourenço, mas como estava escuro não tinham achado. Eles retornaram para o barco e foram de encontro ao que estava parado e encontraram os seus ocupantes lá, rapidamente consertaram o barco e foram embora.

As 10:30 hs chegamos ao Arroio Corrientes, pelo que eu tinha visto nas imagens do Google Earth esse arroio poderia ser fundo para passar, no primeiro ponto que tentamos, chegamos a conclusão que estava muito longe a margem, por isso caminhamos um pouco mais para chegarmos num ponto onde a passagem seria mais curta, a seguir tem uma imagens que mostra o caminho que fizemos para passar esse arroio.

Felizmente o este arroio também não estava fundo para passar, a água chegou no máximo até a cintura, o maior problema é que próximo as margens ele é muito barrento, tem um momento que o meu pé afundou até o meio da canela.

Após atravessarmos o rio, pegamos um trecho de grama que de longe parecia bom para caminhar, mas quando chegamos lá vimos que devido ao gado, e ao terreno muito úmido e fofo, era cheio de buracos ótimo para torcer o pé, mas como já estávamos ali decidimos encarar, mas não era muito recomendável, no meio dessa passagem decidimos parar para almoçar e descansar, ficamos parados ali por meia hora. Retomamos a caminhada ao meio dia, a seguir tem algumas fotos desse local.

Ao meio dia a caminhada já estava bem difícil, as nuvens tinham ido embora e o calor estava forte, por isso caminhamos mais uma meia hora e decidimos parar embaixo da única arvore que tinha ali por perto, mal dava para ficar embaixo da arvore, mas a sombra foi essencial. Ali foi o único momento que para tomar um banho de lagoa, ficamos mais de uma hora deitados dentro da água, eu particularmente queria ter ficado mais tempo, mas ainda tínhamos muito o que caminhar.

As 14 hs retomamos a caminhada, já recuperados após o belo banho. Nessa parte encontramos várias arvores mortas na beira da lagoa, e na minha opinião foi a partir desse trecho que passamos pelos lugares mais bonitos da caminhada, a seguir vou colocar algumas fotos que achei interessante, alem de um video que gravei que consegue dar uma boa ideia do local.

Pouco mais adiante encontramos um local que fizeram de lixeira para pneu velho, para mim é a única razão para ter tanto pneu lá, creio que o IBAMA tinha que dar uma olhada, deveria mais de 20 pneus de trator e caminhão jogados pela praia, é um crime um lugar tão bonito, com aquele monte de pneu enterrado, olhem as fotos e vejam se não tenho razão.

Creio que não por coincidência ali encontramos uma das poucas casas da ilha, também tem os restos de uma casa grande que imagino ser do tempo das charqueadas, infelizmente não cheguei a bater fotos da casa que está habitada, mas ela fica atras desta que esta destruída.

Era quase 16 hs quando encontramos um dos poucos moradores da ilha, até então tínhamos apenas visto as casas, mas não tínhamos falado com ninguém. Naquele momento nós estávamos praticamente entregues ao cansaço, principalmente eu e a Carol, já o Laison não demonstrava tanta dor e sofrimento.

Nós aproveitamos a sombra de uma das arvores para descansar, e conversar com o morador. Ele nos falou que mora ali para cuidar do gado, e que ali não tem estrutura nenhuma, a luz era apenas de lampião e a água ele usava a da lagoa mesmo, pois o poço que tem dentro do terreno estava com a agua ruim.

Para pegar água da lagoa ele fez o que podemos dizer de poço, pois ele cavou um buraco próximo a beira da praia e para não se fechar ele usou um daqueles tonéis de plástico que tem cerca de 1 metro de altura com o fundo cortado, assim a água que entrava ali ficava livre dos dos detritos orgânicos, lhe dando aspecto mais limpo. Nós aproveitamos para pegar água do poço já que estávamos ficando sem e seguimos viagem.

Este momento da caminhada foi o mais difícil, pois nós estávamos muito cansados e o sol estava muito forte, por isso andamos menos de 2 km da casa e já tivemos que parar de novo, ali ficamos parados uma hora deitados em uma arvore, todos aproveitaram para dormir, o que ajudou bastante. Eu particularmente teria ficado ali dormindo, mas o pessoal começou a se mexer e eu tive que ir atrás.

Recomeçamos a caminhada as 17:30, faltava apenas 1 km para dobrarmos a ilha da feitoria e então avistarmos a cidade de Pelotas, a partir daquele momento eu já comecei a pensar qual seria nossa estratégia para acampar, eu estava pensando em atravessar o primeiro rio que dá acesso a lagoa pequena e acamparmos na ilha, pois pela minhas contas quando chegássemos na ilha já estaria começando a escurecer, como não adiantava ficar pensando muito eu me preocupei em caminhar, quando chegasse lá nós veríamos o que fazer.

10 comentários

  • Kadu

    Ola Adonai, ha tempos me interesso nesse roteiro, porém esse relato aparece incompleto. Voce chegou a completar até a colonia z3?

    • Kadu, realmente nunca terminei o relato, mas sim, nós terminamos a caminhada chegando na colonia Z3 as 1 hs da manhã, pois decidimos não parar de caminhar. O trajeto difícil é na travessia da lagoa que não esta no relato, onde tivemos que caminhar muitas horas dentro da água e só conseguimos voltar para a terra quando já era noite escura lá pela 22 hs.

      • Kadu

        Obrigado Adonai. Há tempos que eu estudo esse caminho, e realmente parece ser um largo canal a ser atravessado Entre a ilha da feitoria e a Z3 e são pouquíssimas informações a respeito. De qualquer forma parabéns pela travessia. Chegou a ter água acima da cintura?

      • A água chega no máximo até a cintura.

  • Legal o relato!
    Farei esse trekking início de 2015.
    Sobre grupo trekking em Pelotas, existe ao menos um no facebook. Chama-se “Pé na Trilha”, mas em geral faz caminhadas curtas, de um dia, no interior de Pelotas e cidades próximas. Mas nesse grupo dá pra achar gente que topa fazer trekkings mais longos.

    • EDI

      legal essa aventura, saberiam me informar se é possível ir de bike pelo mesmo trajeto? costumo pedalar pela colônia e sempre busco novas aventuras e desafios !!

  • Cara! Muito show! estou bem afim de fazer, esta travessia também,  se alguém estiver procurando um parceiro para fazer, pode me contatar..

    Parabéns pelo post!!

  • Oi, não existe nenhum grupo de trekking em pelotas, só tem um grupo de bike que sempre tem passeios. Se eu ainda morasse ai poderíamos montar esse grupo.

  • Oi, Adonai! Recebi uma proposta de trabalho em Pelotas e uma das primeiras coisas que fui verificar, na Internet, era se existiam grupos de trekking na cidade. Encontrei MUITO pouca coisa e o teu site. Por gentileza, sabes se existem grupos que façam trekking/caminhadas por aí? Para mim é algo importante, pois é o meu maior lazer. Te agradeço desde já e parabéns pelo site! Cris

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